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ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS DIFICULDADES SEXUAIS MASCULINAS

Luciana Carvalho

  • Psicóloga do Serviço de Psicologia Médica do H.S.E. Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro

AVALIAÇÃO E TRATAMENTO

Aula ministrada no Curso Disfunção Erétil Coordenado por Dr. Roberto Miranda de Cerqueira Campos, no H.S.E. em Outubro de 1999.

Introdução

Pretendo dar uma visão geral dos tipos mais freqüentes de dificuldades sexuais que encontramos, da abordagem que é feita e da evolução do tratamento. De modo geral, os pacientes que são encaminhados para a Psicologia, chegam aborrecidos por lhes ser dito que sua dificuldade é emocional ou tem grande chance de ser. Muitas vezes, chegam a verbalizar que prefeririam ter um problema orgânico, que um remédio pudesse resolver. Como se, ter um problema emocional, fosse motivo de vergonha ou algo que dependesse de muito esforço deles para solução.

Geralmente, e por conta de uma educação que coloca para os homens a impossibilidade de falhas, principalmente no campo sexual, fica difícil para o paciente entender que seu pênis não pode ser comandado como outras partes do corpo, que ele se movimenta quando quer e que, para que haja uma ereção e ela se mantenha, fatores físicos e emocionais entram em jogo. É fundamental para o paciente, nesse aspecto, sentir-se compreendido e acolhido por seu médico .

As entrevistas

Nos primeiros contatos que fazemos com o paciente, nas chamadas entrevistas iniciais, é muito importante saber que tipo de problema ele tem, há quanto tempo, quando começou, em que circunstancias ocorreu e o que o fez procurar tratamento. Freqüentemente é necessário um contato com a esposa ou companheira, principalmente quando esta, por algum motivo, não está podendo colaborar com o marido, e muitas vezes diz coisas ou tem atitudes, que só agravam o problema.

Depois de muitos anos tratando pacientes com disfunção erétil e ejaculação precoce, posso dividir as dificuldades que apresentam em dois grupos: dificuldades reativas e dificuldades primárias.

Dificuldades reativas

São chamadas assim, por se tratar de uma reação a alguma dificuldade que ocorreu, ou ocorre com a pessoa, seja de origem física, social ou emocional. Por ser um problema que se instala em um determinado momento na vida do paciente, que até então tinha uma vida sexual "normal", é mais fácil de ser tratado.

Vejamos alguns exemplos encontrados no nosso ambulatório, de situações vividas pelos pacientes que provocaram disfunção erétil ou ejaculação precoce:

  • Paciente que termina uma relação e sofre ameaças de magia negra, rogadas pela ex-companheira;
    Paciente que sai de uma relação, porque foi abandonado ou traído;
  • Paciente que faz alguma cirurgia, que aparentemente não teria nenhuma influência em sua atividade sexual, e começa a ter problemas;
  • Paciente que sofre alguma cirurgia na área genital, que não necessariamente influenciaria sua sexualidade, mas fantasia que influenciou;
  • Paciente que confunde infertilidade com impotência;
  • Paciente que começa a ter dificuldade especificamente com uma mulher, com quem está se relacionando e por algum motivo, sente-se inferiorizado;
  • Paciente que sofreu situações de perda,(de qualquer ordem), que o deixou culpado ou deprimido;
  • Paciente que chega a determinada idade, ou se aposenta e começa a fantasiar que sua vida sexual vai acabar;
  • Paciente que num determinado momento, ou situação específica, não conseguiu ter ou manter uma relação, fica impressionado com este fato e passa a ter dificuldades.

Dificuldades Primárias

Estas dificuldades, que podem se apresentar seja através da ejaculação precoce ou da disfunção erétil, aparecem desde o início da vida sexual da pessoa. Estão ligadas a fantasias inconscientes relacionadas a atividade sexual. Requerem um tratamento longo, não costumam responder a medicamentos e quando estes são usados, o paciente acaba fazendo um outro sintoma. Se feita uma cirurgia para colocação de prótese, o paciente sai insatisfeito e queixoso.

Interconsultas e Tratamento

As dificuldades que descrevi acima são sempre fruto de algum trauma ou de fantasias inconscientes. Muitas vezes, distorções da realidade que foram vividas precocemente pelo paciente. Por exemplo: uma criança bem pequena, que um dia dormindo no quarto dos pais, assistiu ao ato sexual dos mesmos, por não ter capacidade, ainda, de compreender o que é uma relação sexual, pode ter experimentado, naquele momento, medo e ansiedade. Pode ter tomado a cena assistida, como algo agressivo e perigoso e esta idéia ou fantasia ter ficado no seu inconsciente, causando mais tarde uma impotência primária.

Um outro exemplo de uma dificuldade reativa, seria o de um paciente com quarenta anos e vida sexual "normal" que após a morte do pai com quem tinha uma relação difícil, (por este ser alcoólatra e muito agressivo), começa a apresentar um quadro de impotência, três meses depois. Porque muitas vezes, quando criança, teria pensado que seria um alívio para toda a família a morte do pai, sente-se culpado e sua impotência é uma espécie de autopunição.

É importante dizer, que mesmo nas situações reativas, alguma fantasia inconsciente primária existe. O problema se instala, porque existe uma estrutura frágil para lidar com determinada situação. Podemos observar pessoas que enfrentam problema semelhante reagirem de maneira diferente ao mesmo.

É fundamental para o êxito do tratamento, que médico e terapeuta discutam cada caso, principalmente, se o médico tem a intenção de usar algum medicamento ou submeter o paciente à cirurgia para colocação de prótese.

Quando o médico receitar Viagra® ao paciente com um quadro primário, o remédio certamente não fará efeito, deixando-o ainda mais ansioso

Se indicar auto-injeção, o paciente poderá utilizar alguma desculpa para não fazer uso, ou apresentar uma doença emocional mais grave se usar. Nas situações reativas, o uso de medicamentos pode ajudar a encorajar o paciente, num momento específico, quando ele já tiver tomado contato suficiente, com suas fantasias. Quando usado inadequadamente, o paciente, após algum tempo, volta queixando-se de medo da dependência e de futuros efeitos colaterais.

O tratamento é feito através de encontros, (sessões) onde o paciente fala livremente sobre seu dia a dia, seus sentimentos, emoções, e tem por objetivo o acessar estas fantasias para que ele, tomando contato com elas, possa entende-las (elaborá-las).

É de grande importância para o sucesso do tratamento, que Médico Assistente, Psicólogo e Psiquiatra trabalhem de maneira integrada. Muitas vezes, um paciente com diagnóstico psicogênico encaminhado ao Psicólogo, tem necessidade de voltar ao Médico para certificar-se de sua avaliação. Em outros casos onde há dúvidas e métodos mais invasivos são indicados, uma avaliação psicológica pode colaborar para um diagnóstico mais preciso. Nos casos de pacientes deprimidos ou psicóticos, a intervenção de um Psiquiatra para medicá-lo é fundamental.

Bibliografia.

  1. Abraham, Karl. Teoria psicanalítica da libido, Rio de Janeiro, Imago, 1970.
  2. Holanda, Aurélio Buarque de (1965), Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Ed.Nova Fronteira, 1975.
  3. Freud, Sigmund (1901) – Um caso de histeria, três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos. S.E. Vol. VII, Rio de Janeiro, Imago, 1989.
  4. Green, André – O complexo de castração, Rio de Janeiro, Imago, 1991.
  5. Klein, Melanie (1921) – Contribuições à psicanálise, São Paulo, Mestre Jou, 1970.
Note que as informações aqui disponibilizadas são de caráter complementar, não substituindo, em hipótese alguma, as visitas regulares ao médico ! Evite a auto-medicação, consulte, sempre, um profissional devidamente capacitado !
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