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Lachtermacher, A.P.1; Sitonio, F.T.1; Santos, S.A.S.1; Pereira, A.G.L. 2; Escosteguy, C.C.2; Marques, M.R.V.E.2
1Residência em Saúde Coletiva/IESC/UFRJ; 2Serviço de Epidemiologia/HFSE.
Introdução:
A meningite é um importante problema de asúde pública, apresentando as mais altas taxas de morbidade e mortalidade dentre as infecções do sistema nervoso central. Constitui agravo de notificação compulsória, imediata, em todo o territ.ório nacional, de forma que todos os profissionais de asúde, em serviços públicos ou privados, são responsáveis pela notificação.1
Em 2011, o Brasil apresentou 20.781 casos confirmados de meningite. Destes, 1.307 foram notificados pelo Estado do Rio de Janeiro, sendo 670 ocorridos na capital. 2
O Sistema de Vigilância das Meningites (S.V.E./Meningites) compreende todas as atividades e atores envolvidos desde a identificação de um caso suspeito até a adoção das medidas de prevenção e controle da doença na comunidade. O (S.V.E./Meningites teve sua implantação em 1975, quando tinha como objetivo principal o controle da doença meningocócica, em virtude dos surtos então verificados no país. O funcionamento de unidades de vigilância epidemiológica nos hospitais é fundamental para a busca ativa e investigação de casos dentro dos mesmos. 3
O Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião (IEISS) sempre foi referência no Estado do Rio de Janeiro para o atendimento de pacientes com doenças infecto-contagiosas, como a meningite. Noronha et al relataram que, em 1997, dos casos de meningite de todas as etiologias notificados diariamente à Coordenação de Programas de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Asúde (R.J.), cerca de dois terços foram diagnosticados e tratados no IEISS.4 Fundado em 1889 por D. Pedro II, o prédio do hospital, no bairro do Caju foi desativado e o (IEISS foi transferido para o prédio do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado (IASERJ) em 2008. Em 20/08/2012, o (IEISS foi integrado ao Hospital Federal dos Servidores do Estado (H.F.S.E.).5
Neste contexto, torna-se importante conhecer o novo perfil das notificações de meningite no H.F.S.E., tendo em vista o grande aumento do número de casos resultante desta integração.
Objetivos:
Descrever o perfil clínico-epidemiológico dos casos de meningite notificados no H.F.S.E. no período de 2007 a 2012 e discutir o impacto nestas notificações após a integração com o IEISS.
Metodologia:
Estudo descritivo desenvolvido a partir da análise dos casos suspeitos de meningite notificados pelo Serviço de Epidemiologia do H.F.S.E. e inseridos no SINAN NET local. Foram selecionados todos os casos suspeitos notificados no período de 2007 a 2012. Análise estatística realizada utilizando-se o teste do qui quadrado; considerou-se estatisticamente significativo um valor de p < 0,05 bi-caudal. Para a análise dos dados, foi utilizado o Epi Info 2000 e o Excel 97/2003.
Resultados e discussão:
Foram notificados, no período de 2007 a 2012, 540 casos de meningite no H.F.S.E., sendo 300 apenas no ano de 2012 (gráfico 1). É importante ressaltar que, a partir de agosto de 2012, ocorreu a integração do IEISS, mudando significativamente o perfil das notificações de meningite no H.F.S.E..
Gráfico 1. Distribuição das notificações de meningite no H.F.S.E., segundo ano de notificação (n=540).
Dentre os 540 casos notificados, 430 foram confirmados (79,6%), 86 descartados e 24 permaneceram sem conclusão quanto ao diagnóstico final. Todos esses 24 casos ocorreram em 2012, referentes a pacientes de outras unidades encaminhados para exame de líquor, e se caracterizaram pela ausência de registro de informações clínicas (muitas vezes com informações parciais de identificação) e exames normais ou pouco alterados no líquor. Foram investigados pelo Serviço de Epidemiologia e informados à Secretaria Municipal de Saúde (S.M.S./R.J.).
Entre os 430 casos confirmados, houve predomínio do sexo masculino (57,7%). A distribuição por faixa etária foi: < 1 ano - 17,7%; 1 a 12 anos - 18,4%; 13 a 19 anos - 7,7%; 20 a 39 anos - 28,1%; 40 a 59 anos - 23,0%; ≥ 60 anos - 5,1%. O tempo médio entre o início dos sintomas e a notificação do caso foi de 7 dias.
Tabela 1. Distribuição dos casos confirmados de meningite, notificados no H.F.S.E., segundo etiologia e ano de notificação (2007 a 2012).
| Etiologia | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | Total |
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| Meningite não especificada | 12 | 13 | 15 | 6 | 15 | 105 | 166 |
| Meningites bacterianas agudas* | 3* | 12* | 11* | 6* | 9* | 96* | 137* |
| Meningite por bactéria não especificada | 0 | 5 | 4 | 0 | 1 | 46 | 56 |
| Doença meningocócica | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 33 | 37 |
| Meningite estafilocócica | 1 | 1 | 2 | 2 | 6 | 3 | 15 |
| Meningite pneumocócica | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 10 | 15 |
| Meningite por bacilo Gram negativo | 1 | 4 | 1 | 1 | 0 | 2 | 9 |
| Meningite estreptocócica | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 1 | 3 |
| Meningite por hemófilo | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 |
| Meningite por listeria | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
| Meningites tuberculosa** | 10 | 11 | 6 | 7 | 19 | 10 | 63 |
| Meningite criptocócica e por outros fungos*** | 5 | 9 | 3 | 8 | 4 | 18 | 47 |
| Meningite asséptica | 2 | 1 | 1 | 2 | 0 | 6 | 12 |
| Sífilis forma meningoencefálica | 2 | 0 | 0 | 0 | 2 | 1 | 5 |
| Total geral | 34 | 46 | 36 | 29 | 49 | 236 | 430 |
| *Subtotal corresponde a todas bacterianas agudas. **Inclui 1 caso que na evolução identificou-se como M.atípica.*** 45 criptocócicas, 1 por candida e 1 fungo não especificado. Fonte: SINAN NET/Epidemiologia/H.F.S.E.. | |||||||
Em relação à etiologia (tabela 1), a meningite não especificada foi a mais frequente, com 38,6% dos casos, seguida pelo subconjunto das bacterianas agudas que foram responsáveis por 32,1% dos casos.
Com a vinda do IEISS, a contribuição das bacterianas agudas aumentou, chegando a 40,7% em 2012, e com expressivo aumento dos casos de doença meningocócica e meningite pneumocócica. Entretanto, foi elevado o percentual de etiologia bacteriana não especificada (casos com líquor sugestivo de etiologia bacteriana sem identificaçl;ão do agente). Além disso, o percentual de meningite não especificada foi 44,5%, em um aumento significativo se comparado à média dos cinco anos anteriores (p=0,006).
Em relação às subagudas e crônicas, destaca-se o papel da meningite tuberculosa e da criptocócica, e sua frequente associação à AIDS.
Dentre os casos confirmados, 276 foram internados no H.F.S.E.; 154 foram pacientes de outras unidades referidos para análise do líquor. Entre os casos internados, 32,0% foram por meningite não especificada (24,7% no ano de 2012). Em 2012, houve um aumento na proporção de casos de meningite pneumoc&oacuite;cica e de doença meningocócica (esta última sendo responsável por 11,8% de todos os casos de meningite internados no H.F.S.E.). Por outro lado, ainda que muito frequente no período, a proporção de casos de meningite tuberculosa sofreu uma redução de 59% em relação à média dos anos anteriores.
A taxa de letalidade dos casos confirmados internados no H.F.S.E. foi 20,1%, sendo 17,3% em 2012. A informação sobre os casos referidos para exame de líquor foi frequentemente incompleta, tanto do ponto de vista dos dados clínicos quanto da evolução.
Conclusões:
Com a integração do IEISS com o H.F.S.E., verifica-se um aumento do número de notificações de meningite no hospital e a mudança do perfil clínico epidemiológico dos casos notificados. Os dados encontrados também sugerem problemas na identificação do agente etiológico, que podem estar relacionados a coleta/transporte inadequados da amostra, material insuficiente, processamento inadequado da amostra, dentre outros. É fundamental que tais problemas sejam identificados e corrigidos.
Referências:
1Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica – 7. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009.
2Departamento de Informática do SUS. Disponível em: www.datasus.rj.gov.br. Acessado em 06/03/2013.
3Escosteguy, C. C. et al. Vigilância epidemiológica e avaliação da assistência às meningites. Rev. Saúde Pública, 2004; 38(5): 657-63. 4Noronha, C. P. et al . Epidemiologia da doença meningocócica na cidade do Rio de Janeiro: modificações após vacinação contra os sorogrupos B e C. Cad. Saúde Pública, 1997; 13(2): 295-303, n. 2, Apr. 1997. 5Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: www.saude.rj.gov.br. Acessado em 06/03/2013.