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Octavio Freitas Vaz
Durante o curso de graduação (1932 a 1938) freqüentei o Serviço de Cirurgia Geral de Mulheres (10ª enfermaria do Hospital S. Francisco de Assis sob a chefia de Fernando Ferreira Vaz)..
Iniciei o trabalho médico logo após a formatura em 1938, dedicando-me a Gastroscopia até então inexistente no Brasil. Atividade que exerci até 1951, quando decidi estagiar nos Estados Unidos. De 1941 a 1947 trabalhei como assistente do professor Augusto Paulino Filho, na 15ª enfermaria da Santa Casa de Misericórdia.
No dia 4 de novembro de 1947 ingressei, por concurso, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, como cirurgião geral no cargo inicial (letra J). Em março de 1948 fui indicado para a Sub-Chefia de Clínica, em abril para a Chefia de Clínica e logo a seguir para a Chefia do Serviço de Cirurgia de Homens, substituindo Raimundo de Brito que se afastou para outra atividade.
Em junho de 1948 fui solicitado a operar um recém-nascido de baixo peso, portador de atresia do duodeno (caso publicado em 1951 no Boletim do H.S.E.) e, logo a seguir, para intervir num paciente com hérnia diafragma congênita. A sobrevida de ambos os pacientes fez com que passasse a ser considerado o cirurgião que ope rava crianças, basicamente os recém-nascidos, provenientes do Serviço de Pediatria.
Inexperiente e sem condições de progredir fui para os Estados Unidos (EUA), em 1951, procurar um Centro Médico de Cirurgia Pediátrica onde pudesse receber alguma orientação. Assisti a trabalhos no Serviço de Robert Gross no Children's Hospital de Boston, e no Serviço de Cirurgia Pediátrica, que estava sob a Chefia de Willis Potts, no Children's Memorial Hospital de Chicago. Estas atividades foram precedidas pela freqüência, por algum tempo, na Lahey Clinic (Boston), visando a reciclar-me em Cirurgia Geral, já que ao ir para os EUA chefiava um Serviço de adultos de grande porte.
Ao voltar dos EUA determinado a exercer a Cirurgia Pediátrica, sua aceitação no H.S.E. (Rio), como especialidade, foi extremamente difícil, como também acontecia nos EUA onde o 1º título de especialista só foi concedido em 1972. Essa dificuldade era realidade na maior parte da Europa, principalmente na Suíça.
A primeira organização de cirurgiões pediatras nos EUA formou-se na American Academy of Pediatrics em 1948, embora ainda incluída numa organização de pediatria. Em 1953, cinco anos depois, Dennis Brown organizou na Inglaterra a Britsh Association of Pediatric Surgeons (BAPS) sendo a primeira a formar uma agremiação independente da Sociedade de Pediatria.
Em 1967 organizou-se no Canadá a Association of Pediatric Surgeons (APSA), independente da Sociedade de Pediatria, antes que isto ocorresse nos EUA onde a aceitação da Cirurgia Pediátrica também foi bastante demorada, tendo sido necessário vencer antes a resistência do American Board of Surgeons que se opunha à concessão do certificado em Cirurgia Pediátrica, sob a alegação de que esta especialidade conflitaria com muitas outras já existentes, além do que facilitaria que outros campos da Cirurgia Geral solicitassem reconhecimento.
Em 1960 Every Koop, alertado por John Flick, voltou a insistir junto ao American Board of Surgeons, na necessidade de se reconhecer a Cirurgia Pediátrica como especialidade. No mesmo ano, Alexander Bill e Willis Potts, reunidos em Chicago, persistiram na proposição, organizando petição assinada por eminentes cirurgiões entre os quais: A Bill Jr., W. Clatworth, E. Koop, Lawrence Picket, e Willis Potts. O resultado foi de nova recusa sugerindo que o cirurgião pediátrico já tinha proteção da American Academy of Pediatrics
A aceitação da Cirurgia Pediátrica, no entanto, já se tornara realidade tendo Alton Ochsner e Owven Wangensteen decidido dar ênfase à mesma organizando a seção a ela destinada na revista Surgery, tendo M. M. Ravitch como editor, prática que se estendeu até 1971, quando foi interrompida porque já existia o Journal of Pediatric Surgery, destinado exclusivamente à Cirurgia Pediátrica.
O reconhecimento da Cirurgia Pediátrica já se expressara tendo: W. Ladd e R. Gross, em 1941, publicado a monografia intitulada "Abdominal Surgery of Infancy and Childhood" ; R. Gross em 1953, editado "Surgery of the Infancy and Childhood"; M.M. Grob, em 1957, publicado "Lehbuch der Kinderchirurgie", posteriormente traduzido para o espanhol; M.M. Ravitch em 1959, publicado "Intussusception in Infant and Children".
Em 1960 Potts reforça as publicações com "The Surgeon and of Child". Marcel Fevre na França, em 1968, edita "Cirurgie Infantile et Ortopedie". M.M Ravitch volta a aumentar as publicações com "Torcicollis in Infancy and Childhood". Srephens publica seus estudos a respeito das anomalias anorretais e, Ehrenpreiss a monografia "Hirschsprung Disease" em 1971. A esta altura a Cirurgia Pediátrica já se impusera e demonstrava ser irreversível. Toda esta movimentação foi por mim acompanhada quando já me dedicava exclusivamente à Cirurgia Pediátrica.
Após voltar dos EUA, ainda numa época em que a Cirurgia Pediátrica não tinha alcançado o conceito de especialidade cirúrgica, W. Potts, tendo percebido a dificuldade que eu enfrentava, aceitou meu convite e esteve no Rio de Janeiro três semanas, em 1955, procurando ajudar-nos. No mesmo ano, escreveu-me de Chicago a seguinte carta:
Chicago, sept, 27-1955
Dear Dr. Vaz:
I wonder how you are coming along with children's surgery at your hospital. There is a great deal of feeling in this country on the part of many surgeons that children's surgery should not be a speciality. There is an idea that the general surgeons should be able to do all children's surgery. We know from our experience that it doesn't work but many people still have to be convinced and I am sure it will be quite a few years before children's surgery is recognized as a bone field speciality in this country. Very best greating to Mrs. Vaz and to your family., Willis Potts
A carta de W. Potts, expressava as dificuldades que os cirurgiões enfrentavam nos EUA para conseguirem o reconhecimento da Cirurgia Pediátrica o que torna fácil entender as que eu encontrava no Rio para iniciar uma especialidade que era desprezada. Nesta época constatei o quanto seria difícil obter a aceitação da Cirurgia Pediátrica num Hospital Geral, sobretudo porque até então ninguém se interessara por esta atividade cirúrgica. Tive, no entanto, a meu favor o apoio de Luis Torres Barbosa, chefe do Serviço de Pediatria do H.S.E. (Rio), e a valiosa confiança que em mim depositou Rinaldo de Lamare, ilustre pediatra, que sem ainda me conhecer mais de perto, indicava-me para atender os doentes cirúrgicos de sua vasta clínica privada.
As atribuições como cirurgião pediatra levaram-me a abandonar as atividades de cirurgião geral de adultos e a atuação como único gastroscopista do Brasil, dedicando-me exclusivamente, de 1953 em diante, à Cirurgia Pediátrica. Embora atuasse com independência técnica, no H.S.E. (Rio), a especialidade ainda era subordinada à administração do Serviço de Cirurgia Geral de Adultos. Quando estudamos nos EUA a cirurgia cardiovascular, Quando estudamos nos EUA a cirurgia cardiovascular, antes que se desenvolvesse a cirurgia extracorpórea, fazia parte das atribuições do cirurgião pediatra abordando, principalmente no Serviço de Robert Gross (Boston), a correção da coartação da aorta e a interrupção do canal arterial. Em Chicago, no Children's Memorial Hospital, W. Potts desenvolvia a anastomose aortopulmonar para a correção da Tetralogia de Fallot e da estenose mitral, com instrumental por ele idealizado. A cirurgia cardiovascular vinha sendo impulsionada também pelos cirurgiões pediatras, e me considero um privilegiado por ter tido a oportunidade de acompanhar pessoalmente este fantástico esforço pelo desenvolvimento de um ramo da cirurgia que corria paralelamente à cirurgia pediátrica e era, em parte, a ela incorporado.
Tendo sido instruído a respeito destes assuntos, sobretudo por W. Potts em Chicago, ao iniciar as atividades no Brasil, solicitei a colaboração do Dr. Pedro Abdala, da Cirurgia Geral, e organizamos um biotério ao que se associou o Dr. Lucas de Araújo como anestesista. Iniciamos os trabalhos experimentais operando dois cachorros nos quais fizemos a anastomose aortopulmonar, para a correção da tetralogia de Fallot. Não fomos além destas duas experiências pois por determinação de um dos chefes da Cirurgia Geral, que desejava dedicar-se à cirurgia cardiovascular, o biotério foi desfeito e os cachorros libertados.
Posteriormente fizemos construir nos EUA um aparelho que me auxiliaria muito no acompanhamento da cirurgia do recém-nascido porque permitia acompanhar numa tela: pulso, eletrocardiograma, temperatura e saturação de 02 e p02. Por determinação de quem destruiu o biotério e, pelos mesmos motivos, esse aparelho funcionou apenas durante uma semana com o técnico que veio de Nova Iorque nos instruir como trabalhar com este fantástico melhoramento, para a época. Depois de encostado, por muitos anos, terminou sendo recolhido como ferro velho não sem que antes tivesse sido aproveitado como suprimento de peças para outro aparelho semelhante, posteriormente agregado ao Serviço de Cardiologia, no Setor de Hemodinâmica.
Fim desconhecido foi dado ao termômetro retal que W. Potts doou ao Serviço quando aqui esteve, o mesmo acontecendo com o colchão de água que fiz construir, para resfriar ou aquecer o recém-nascido durante o ato cirúrgico. A bem da verdade devo dizer que depois fui brindado com uma aparelhagem elétrica, destinada ao mesmo fim mas que custara alguns milhares de cruzeiros (moeda da época). Durou por alguns anos pois quando precisou de reparo, este não pôde ser feito.
O material cirúrgico especializado, idealizado por W. Potts, destinado à cirurgia cardiovascular, que trouxemos dos EUA, teve destino por nós ignorado.
Nesta fase, quando era quase insuperável a pressão que sofríamos, desconsiderando a Cirurgia Pediátrica como especialidade cirúrgica, tive a boa fortuna de contar com o auxílio de Rubens Sanchez que se transferiu do Serviço de Cirurgia Geral, onde terminara a residência, para o então "setor" de Cirurgia Pediátrica, permanecendo como meu colaborador imediato por mais de trinta anos e me sucedendo na chefia do Serviço quando, por motivo legal, fui aposentado.
Reconheço o apoio e a colaboração que prestaram, freqüentando o Serviço, ilustres cirurgiões pediatras que hoje ocupam posições de destaque na especialidade. Sem desmerecer quaisquer outros que tenham freqüentado o Serviço que dirigi, mas por terem sido os primeiros a ajudar no enorme esforço que empreendia, cito: Peter Goldeberg, nosso primeiro residente, atuando agora como professor em Florianópolis com Murilo Capella; Luis de Carvalho, professor em Fortaleza; Ubirajara Motta, ex-presidente da CIPE e professor em Porto Alegre.
Seria injusto não citar Cezarina Pereira, pediatra, que conosco permaneceu cerca de cinco anos ajudando, inclusive, como segundo auxiliar nas intervenções de maior vulto, quando tínhamos um único auxiliar, o Dr. Rubens Sanches. Nesta ocasião os residentes da Cirurgia Geral não tinham autorização para me ajudar nas intervenções que necessitavam de mais de um auxiliar. Diga-se que nesta fase a direção do H.S.E. não reconhecia a existência da Cirurgia Pediátrica.
Somente em 1971, ou seja, 18 anos mais tarde, consegui oficializar o Serviço de Cirurgia Pediátrica transferindo meu cargo de chefe da Cirurgia Geral de Adultos para o de chefe da Cirurgia Pediátrica. Ainda assim, consegui formar no Rio de Janeiro, no H.S.E., a primeira Unidade destinada ao tratamento cirúrgico da criança, logo a seguir complementada com o Serviço de Cirurgia Infantil do Hospital Estadual Jesus, sob a chefia de Rui Archer e Paulo Tubino aos quais se agregaram outros cirurgiões que completaram o esforço que eu iniciara há alguns anos.
Em São Paulo, Virgílio Carvalho Pinto e Roberto Vilhena completavam o tripé inicial para o reconhecimento da Cirurgia Pediátrica como nova especialidade cirúrgica. Colegas de valor iniciaram a Cirurgia Pediátrica nos demais Estados da Federação estando entre eles Frederico Carvalheira e Miguel Doherty em Recife, Jorge Bahia em Salvador, Lanna Sobrinho em Belo Horizonte, Oswaldo Faria Costa no Paraná e Murilo Capella e Peter Goldberg em Florianópolis. Com o esforço de tão ilustres colegas formava-se a linha de frente que determinaria a valorização da Cirurgia Pediátrica como especialidade.
Durante todos estes anos o Brasil não ficou alheio a esta movimentação e em 1964 Virgílio Carvalho Pinto e outros idealizaram a organização da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE) da qual Carvalho Pinto foi o primeiro Presidente e Octavio Freitas Vaz o Vice-Presidente para o período de 1964 a 1966, tendo ambos sido reeleitos para o período de 1966 a 1968.
Em 1966, sob a Presidência de Carvalho Pinto, realizou-se em S. Paulo o I Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica e no mesmo ano Jesus Loyola Slolis fundou no México Associação Pan-americana de Cirurgia Pediátrica, estando presentes como sócios fundadores: Virgílio Carvalho Pinto, Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica; Octavio Freitas Vaz, Vice-Presidente da mesma Sociedade; e José Pinus, representando S. Paulo. Estava lançada a primeira etapa para a integração dos países que compõem as Américas.
Em 1968 coube ao Rio de Janeiro organizar o II Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica e Octavio Freitas Vaz, indicado como seu Presidente, ampliou sua realização, incorporando ao mesmo o I Congresso Pan-americano de Cirurgia Pediátrica e a I Jornada Argentino–Brasileira de Cirurgia Pediátrica. Este evento foi patrocinado também pela Associação Pan-americana de Cirurgia Pediátrica sob a Presidência de Jesus Loyola Slolis e pela Sociedade Argentina de Cirurgia Infantil presidida por Vitor Ruiz Moreno.A América do Sul, com exceção do Equador, Bolívia e Paraguai, fez-se representar por valiosa delegação.
Blanca Smith que em Columbus (Ohio) iniciava o transplante parcial do fígado, ainda em caráter experimental, representou os EUA relatando suas observações. Da Europa compareceram: Bernard Duhamel, (França); Franco Soave, (Itália); e Theodor Ehrenpreiss, (Suécia). Todos eles profissionais de renome universal, expuseram suas opiniões a respeito dos aspetos controvertidos no que se refere à Doença de Hirschsprung.
Duhamel desenvolvera técnica própria usada em quase todo o mundo como alternativa da técnica de Swenson. Soave idealizara outra técnica denominada de abaixamento endoanal dividindo a primazia deste processo com Rehbein e expôs seu conceito a respeito do tratamento da doença de Hirschsprung. Ehrenpreiss abordou principalmente a fisiologia da doença, procurando definir a histoquímica publicando a este respeito, em 1971, valiosa monografia. As vantagens e desvantagens de cada uma das técnicas foram analisadas e cotejadas no que se refere aos resultados obtidos com cada uma delas.
Organizamos mesa redonda, abordando os tumores abdominais, onde Octavio F. Vaz relatou sua experiência a respeito do carcinoma da supra-renal na criança e de outros assuntos de magna importância. Foram ainda abordados: estados intersexuais, refluxo vésico-ureteral, hipertensão renovascular na criança, hipertensão porta, técnicas de substituição do esôfago, e vários outros aspetos pertinentes à Cirurgia Pediátrica.
Os Congressos de Cirurgia Pediátrica, realizados no Rio de Janeiro, em 1968, pela primeira vez projetaram o Brasil, no âmbito internacional. Ao término do II Congresso Brasileiro, do I Pan-americano e da I Jornada Argentino-Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Octavio Freitas Vaz, em reconhecimento de seu esforço, foi elevado à Presidência da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica, com o que completaria seis anos consecutivos num cargo de Direção na referida organização.
Na Argentina, no Congresso de Cirurgia Infantil realizado em Neuquem, em 1968, Octavio Freitas Vaz recebeu o título de membro da Sociedade Argentina de Cirurgia Infantil e, no II Congresso Pan-americano de Cirurgia Pediátrica, realizado em Lima (Peru) em 1970. Compareceu como um dos representantes do Brasil e foi intitulado membro, da Sociedade Peruana de Cirurgia Pediátrica. Neste Congresso Octavio F. Vaz relatou o tema "Pré-operatório no recém-nascido".
O Brasil, sede de intensa atividade, procurava ainda expandir-se além de suas fronteiras e, em 1971, participou da I Jornada Luso-Brasileira de Cirurgia Pediátrica, realizada em Lisboa (Portugal) sob o comando de Gentil Martins, onde foram apresentados temas pela equipe brasileira tendo Octavio F. Vaz abordado o tema Intersexo. Em prosseguimento às atividades realizava-se a cada dois anos o Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica e, Carvalho Pinto (S.Paulo) organizou o V Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica, o IV Congresso Pan-americano e a III Jornada Luso-Brasileira com o que se deu prosseguimento às atividades iniciadas por Octavio F. Vaz em 1968, no Rio de Janeiro, expandindo o conceito da Cirurgia Pediátrica brasileira.
Compreendeu-se, em 1968, por ocasião dos Congressos de Cirurgia Pediátrica, reunidos no Rio de Janeiro, que era necessário selecionar os cirurgiões pediatras auferindo seus conhecimentos, e conceder o título de especialista aos considerados capazes, após prova de seleção. Ainda que de maneira precária, dada dificuldade da época, e por ser o primeiro teste neste sentido, Octavio F. Vaz precedeu as atividades propriamente ditas do Congresso de 1968 (Rio) de um Curso abrangendo os principais assuntos da Cirurgia Pediátrica ao que se seguiu prova de testes de múltipla escolha, sendo considerados aprovados os que tiveram média sete, ou superior.
O título teria validade de cinco anos, só sendo mantidos os que comprovassem o exercício da Cirurgia Pediátrica sem o que perderia a validade. Esta iniciativa também frutificou e desde então, a cada dois anos, realiza-se, por ocasião dos Congressos de Cirurgia Pediátrica, o exame para obtenção do título de Especialista em Cirurgia Pediátrica, que exige a comprovação prévia da freqüência de um ano num Serviço de Cirurgia Geral e o término da residência de Cirurgia Pediátrica num Serviço credenciado.
Pessoalmente, após 53 anos de exercício na Cirurgia Pediátrica, considero ainda falho o treinamento do cirurgião pediatra no Brasil pois julgo que a exemplo do que ocorre em países mais evoluídos o certo é obter-se primeiro o título de Especialista em Cirurgia Geral e depois o de Cirurgia Pediátrica, considerando que esta abrange o campo da Cirurgia Geral, não estando limitada a um único sistema anatômico como ocorre na atividade cirúrgica com adultos.
A concessão do título após o término da residência, por Órgão Governamental, sem a comprovação do treinamento do residente, constitui erro grave. O maior rigor na seleção visa a limitar a pletora de Serviços Especializados e cirurgiões pediatras, alguns impropriamente treinados, havendo necessidade de se adequar o número de cirurgiões pediatras à necessidade e exigência de cada cidade e região.
O título de Especialista em Cirurgia Pediátrica deve ser concedido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE), após aferição dos conhecimentos do candidato, com o aval da Associação Médica Brasileira e não como benefício do Governo, após o término da residência, sem a avaliação do preparo do candidato. A falha deste processo reflete-se no número de reprovações dos candidatos (poucos) que se submetem a avaliação da CIPE, realizada cada dois anos.
Os Serviços devem estar convenientemente equipados: com médicos e instrutores responsáveis pelo treinamento do residente, enfermagem especializada, psicóloga, assistente social, recreadora e demais auxiliares, não importa que sejam Hospitais Universitários ou Assistenciais. Em muitas circunstâncias o cirurgião pediatra é premido a abrigar-se num Hospital Geral mas isto não é inexeqüível desde que se obedeça as exigências necessárias à Cirurgia Pediátrica.
É ainda necessário mencionar a dificuldade em se estabelecer o que na realidade compõe a Cirurgia Pediátrica do mesmo modo que o fez a Clínica Pediátrica em relação à Clínica Médica de Adultos, a fim de evitar-se que várias outras especialidades chamem a si o tratamento da criança quando julguem que a doença se enquadra em sua especialidade. Isto se torna mais freqüente quando o cirurgião pediatra, mal treinado em Cirurgia Geral, considera-se despreparado para realizações mais complexas.
O enorme avanço que a Cirurgia Pediátrica conseguiu nos últimos anos, abordando inclusive anomalias complexas e fetos prematuros ou de baixo peso, certamente tornarão o cirurgião pediatra incapaz de abordar com eficiência todas as patologias mas isto não significa a entrega da criança a grupos que lidam essencialmente com paciente adulto, possibilidade que não deve ser encarada como rotina.
A Cirurgia Pediátrica certamente desenvolverá o que denominamos campo de preferência a medida que determinados Centros de Cirurgia Pediátrica tornem-se referência para determinadas patologias.
Termino com a advertência que me fez Willis Potts quando retornei ao Brasil: "não é quem deve fazer e sim quem sabe fazer".
O CIRURGIÃO PEDIATRA E O PROFISSIONALISMO :
REQUISITOS INDISPENSÁVEIS AO CIRURGIÃO PEDIATRA
Depende muito de nós o conceito que desejamos ter como profissional mantendo o privilégio que nos é concedido de ajudar e servir outros que precisam de nós.
Devemos ser guiados pela força moral que rege nossa profissão: respeito e altruísmo visando à correção de nossas atitudes e ao dever para com nosso paciente e o respeito com os familiares.
Inúmeros Cirurgiões Pediatras estrangeiros participaram ativamente dos trabalhos científicos, atuando em mesas-redondas ou proferindo conferências. Foram provenientes da Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Venezuela, México, Estados Unidos da América, Itália, Suécia e França.
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