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Luquine Júnior, C.D.1; Pereira A.G.L.2; Marques, M.R.V.E.2; Escosteguy C.C.2
1Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva - IESC/U.F.R.J.; 2Serviço de Epidemiologia/H.F.S.E.
Introdução: considerando os efeitos nos fetos durante a gravidez, a sífilis em gestante é um agravo importante de interesse à saúde. Uma vez identificada, o protocolo de tratamento é relativamente simples e promove a remissão dos sintomas e da infecção em poucos dias. A gestante infectada deve ser tratada imediatamente após o diagnóstico, observando-se também a necessidade de acompanhar e tratar as parcerias sexuais. Assim, previne-se a reinfecção durante a gestação. A sífilis congênita é um agravo 100% evitável com o seguimento das medidas recomendadas. No Brasil, a notificação do diagnóstico de sífilis é obrigatória em gestantes, nos casos congênitos e também nas demais populações. A O.M.S. estima que 25% das gestantes com sífilis têm como desfecho a morte fetal ou o aborto espontâneo; além disso, 25% dos recém-nascidos apresentam baixo peso ao nascer ou infecção grave1.
Objetivos: descrever os casos de sífilis em gestante e sífilis congênita notificados pelo H.F.S.E. no período de 2007 a 2016.
Metodologia: estudo exploratório descritivo a partir da base de dados da vigilância epidemiológica municipal (SINAN), selecionando os casos registrados como notificados pelo H.F.S.E.. Para análise utilizou-se o programa Microsoft Office Excel 2010. A limpeza do banco para duplicidades excluiu oito casos de sífilis em gestante e dois de sífilis congênita.
Resultados: no período estudado, foram encontrados na base municipal 323 casos de sífilis em gestante e 336 de sífilis congênita. Esses totais são menores do que os registrados na base local do H.F.S.E., 357 para sífilis em gestante e 354 para congênita. Esta diferença é explicada pelo fato de que o caso atendido no H.F.S.E. pode ter sido previamente notificado por outra unidade de atendimento; a base municipal registra a 1ª notificação. Assim, esta análise representa 93,0% dos casos de sífilis em gestante e 94,9% dos casos de sífilis congênita efetivamente notificados/investigados pelo H.F.S.E..
A Figura 1 apresenta a distribuição temporal dos casos. Das 336 crianças notificadas, 256 (76,2%) eram filhas de mulheres cuja infecção por sífilis foi identificada durante o pré-natal. Quanto à escolaridade das mães, 116 (34,5%) não tinham completado o ensino fundamental e apenas 66 (19,6%) completaram o ensino médio. Foram declaradas negras (pretas e pardas) 190 (56,5%); 98 (29,3%) eram brancas. Destes casos de sífilis congênita, 15 (4,5%) foram descartados.
Em relação às notificações de sífilis em gestante, 200 (61,9%) mulheres foram notificadas no terceiro trimestre de gestação; apenas 37 (11,4%) foram detectados no primeiro trimestre.
Figura 1. Distribuição das notificações de sífilis em gestante e congênita no H.F.S.E., 2007-16.

Quanto ao tratamento, 208 (64,4%) gestantes foram tratadas com três doses de penicilina G benzatina de 2.400.000 UI (Tabela 2); 21 (6,5%) não realizaram nenhum tipo de tratamento. O perfil de tratamento nas parcerias sexuais das gestantes está muito aquém do recomendado1.
Tabela 2. Esquema de tratamento das gestantes com sífilis e tratamento dos parceiros, H.F.S.E., 2007-16.
| Variável | n | % |
|---|---|---|
| esquema de tratamento da gestante | ||
| 2 400 000 UI | 59 | 18,3 |
| 4 800 000 UI | 8 | 2,5 |
| 7 200 000 UI | 208 | 64,4 |
| Não realizado | 21 | 6,5 |
| Outro esquema | 6 | 1,9 |
| Ignorado | 208 | 64,4 |
| Tratamento concomitante do parceiro | ||
| Sim | 36 | 11,1 |
| Não | 60 | 18,6 |
| Ignorado | 227 | 70,3 |
| Total | 323 | 100,0 |
Fonte: SINAN
Considerações: os impactos da transmissão vertical da sífilis exigem controle da disseminação via ações de prevenção e diagnóstico com tratamento precoce. O estudo aponta que mais da metade das gestantes com sífilis foram identificadas já em seu último trimestre, sinalizando possíveis falhas na implementação dos protocolos clínicos de assistência pré-natal, como a não realização dos testes ou o tardio reconhecimento das gestações pelas unidades de atenção primária. Outra dificuldade já amplamente explicitada2,3 é o tratamento adequado das parcerias sexuais. As equipes de saúde responsáveis devem estar atentas à necessidade de, em seu alcance, comunicar e tratar o parceiro para a sífilis.
Referências: