Você está em: Home >>>> Profissionais de Saude >>>> Boletim Epidemiológico >>>> Perfil clínico-epidemiológico dos casos de dengue notificados no Hospital Federal dos Servidores do Estado no período de 2007 a 2010
1Arruda, Ana Carolina Cardoso; 2Escosteguy, Caudia Caminha;2Marques, Márcio Renan Vinícius Espínola;
1;Residência em Saúde Coletiva/IESC/UFRJ; 2;Serviço de Epidemiologia/Hospital dos Servidores do Estado.
Introdução:
A Organização Mundial da Saúde (,abbr title="Organização Mundial da Saúde">OMS) estima que anualmente ocorram 50 milhões de casos de dengue no mundo, sendo necessárias cerca de 550 mil hospitalizações. No Brasil, a doença apresenta picos epidêmicos cada vez maiores, e possui uma ampla distribuição do mosquito transmissor, com uma complexa dinâmica de dispersão do vírus. Dados do Ministério da Saúde mostram que até julho de 2010, no estado do Rio de Janeiro, foram notificados 16.289 casos de dengue.
Os principais objetivos da vigilância epidemiológica da dengue são detectar precocemente alterações no padrão de ocorrência da doença, e interromper ou minimizar o impacto de uma epidemia. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro tem enfatizado que entre as estratégias para alcançar esses objetivos estão: a necessidade de aumentar a velocidade de troca de informação da ocorrência de casos (coleta e disponibilidade de dados); a análise dos dados disponíveis a partir de diferentes abordagens, buscando identificar um padrão de aumento de circulação viral; a interrupção da transmissão através de ações de bloqueio.
Por outro lado, a pronta e adequada assistência aos casos é fundamental para a redução da morbidade e, sobretudo, a prevenção dos óbitos. Enfatiza-se a importância da identificação ágil dos pacientes que apresentam alta prioridade para avaliação médica, podendo necessitar internação ou pelo menos leitos de observação: são aqueles com os chamados sinais de alarme ou que fazem parte dos grupos de risco clínico ou social para complicações. Estes incluem menores de 15 anos ou maiores de 60 anos de idade; grávidas; adultos e crianças com doenças associadas; incapazes de auto cuidado ou que não tenham quem lhes preste cuidado; dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
Os sinais de alarme são: dor abdominal intensa e contínua, vômito persistente, hipotensão postural ou lipotímia, sonolência, agitação ou irritabilidade, hepatomegalia, sangramento espontâneo das mucosas, diminuição da diurese, aumento do hematócrito concomitante à redução rápida das plaquetas. Os protocolos enfatizam a atenção para os sinais de choque ou extravasamento plasmático: pulso rápido e fino, extremidades frias, pele pálida e úmida, enchimento capilar lento (>2 segundos), pressão arterial convergente, hipotensão postural, agitação ou prostração importante, hiportemia, ascite, derrame pleural ou outros derrames, comprometimento respiratório ou sistêmico importante.
O H.F.S.E. participa da Rede de Vigilância em Saúde do Rio de Janeiro, através de seu Núcleo Hospitalar de Epidemiologia, que é da responsabilidade do Serviço de Epidemiologia. Este, por sua vez, exerce seu papel em parceria com o nível central, a partir da notificação dos casos suspeitos, do incentivo à confirmação laboratorial dos casos segundo o protocolo da vigilância epidemiológica e dentro do fluxo de envio de amostras para o Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (LACENN), da colaboração no âmbito do hospital para a organização dos fluxos de atendimento, e da análise dos dados coletados e armazenados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) local.
Na última grande epidemia de 2008 o H.F.S.E. participou da rede de regulação de leitos para casos graves e internou 461 pacientes (420 com forma grave da doença).
Objetivos:
Este estudo tem como objetivo descrever o perfil clínico-epidemiológico dos casos de dengue notificados no H.F.S.E. no período de 2007 a 2010, no sentido de estimular a reflexão do hospital para a necessidade de organização de um fluxo de atendimento para o próximo verão em nosso estado, que poderá ser acompanhado de uma nova epidemia.
Metodologia:
Trata-se de um estudo descritivo que analisou a base local de dados do SINAN.Foram estudados 1347 casos de dengue notificados no H.F.S.E. no período de 2007 a 2010. Na&acaute;lise estatística descritiva através do Epi-Info 2000.
Resultados e discussão:
Dos 1347 casos de dengue notificados no H.F.S.E. no período estudado, 472 representavam formas graves de dengue com complicações, febre hemorrágica da dengue (F.H.D.) ou síndrome do choque do dengue (SCD). A maioria dos casos ocorreu durante a epidemia de 2008 (1106 ou 83,1%).
De acordo com a tabela 1, o número de crianças notificadas pela doença chegou a 16,9%, contra 13,7% de adolescentes; a faixa etária predominante foi a adulta (69,2%). O município de residência predominante foi o Rio de Janeiro (73,6%), seguido pelos municípios da Baixada Fluminense (23,3%). A forma clínica mais frequente foi dengue clássica (59,8%). No entanto, ao computarmos os casos de dengue grave (dengue com complicações, F.H.D. e SCD) encontramos o elevado percentual de 35,0% (472), relacionado ao fato do hospital ser referência para a internação de casos graves. No geral, houve 28,3% de confirmação laboratorial.
Variável | Freq. | % | |||||
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Sexo | |||||||
Feminino | 740 | 54,9 | |||||
Masculino | 607 | 45,1 | |||||
Faixa etária | |||||||
Criança (0-12 anos) | 227 | 16,9 | |||||
Adolescente (13-19 anos) | 185 | 13,7 | |||||
Adulto (> 19 anos) | 932 | 69,2 | |||||
Ignorado | 3 | 0,2 | |||||
Municípios de residência | |||||||
Rio de Janeiro | 992 | 73,6 | |||||
Baixada Fluminense | 314 | 23,3 | |||||
Outros | 40 | 3,0 | |||||
Ignorado | 1 | 0,1 | |||||
Forma Clínica | |||||||
Dengue clássica | 805 | 59,8 | |||||
Dengue com complicações | 368 | 27,3 | |||||
F.H.D. | 103 | 7,6 | |||||
S.C.D. | 1 | 0,1 | |||||
Descartado | 70 | 5,2 | |||||
Fonte :N.C./Serviço de Epidemiologia - H.F.S.E. |
A evolução dos casos resultou em cura documentada para 591 pacientes, 7 óbitos por dengue (todos por dengue grave) e 1 caso de dengue que faleceu por outras causas (câncer metastático); nos demais casos a informação sobre a evolução foi ignorada. A letalidade por dengue foi 0,5% (excluídos os casos descartados); considerando-se apenas os 472 casos graves, a letalidade foi 1,5%. Todos os casos que evoluíram a óbito encontravam-se hospitalizados, exceto por um paciente que já chegou ao H.F.S.E. em parada cardiorrespiratória.
Entre os 472 casos graves de dengue, 199 (42,2%) apresentaram sinais de extravasamento plasmático evidenciado por: hipoproteinemia (1,0%); derrames cavitários (30,2%); e hemoconcentração (68,8%). Manifestações hemorrágicas ocorreram em 62,5% dos casos graves. O Gráfico 1 mostra a distribuição dessas manifestações hemorrágicas nesses pacientes, sendo as petéquias as mais frequentes, seguidas de gengivorragia e epistaxe (um paciente pode ter apresentado mais de uma manifestação). A prova do laço foi realizada em 219 pacientes, sendo positiva em 34.
Dentre os 1347 casos notificados, foram internados 493 (36,6%), sendo 461 apenas no ano de 2008. Dos casos internados, 452 foram classificados como formas graves da doença.
Gráfico !Conclusões:
As epidemias de dengue têm representado um grande desafio para os serviços de asúde. A sucessão dessas epidemias em nosso país tem se associado a um aumento na gravidade da doença e a um deslocamento para faixas etárias mais jovens da população, especialmente as crianças. Torna-se fundamental aprimorar o conhecimento dessa mudança no perfil epidemiológico da doença, para o estabelecimento de uma política mais eficiente de cuidado aos pacientes enfermos durante futuros processos epidêmicos.
A vigil&eacirc;ncia epidemiológica ágil representa uma ferramenta útil para a rede de informações, fornecendo dados importantes para a avaliação dos serviços de asúde e o planejamento, e ainda colabora na organização da assistência.
Os dados do presente estudo no H.F.S.E. reforçam a importância da organização no âmbito do hospital, que tamb&ecaute;m tem enfrentado uma demanda crescente nesses períodos epidêmicos.
Referências:
Ministério da Asúde. Informe Epidemiológico da Dengue Naálise de situação e tendências – 2010.
Ministério da Asúde. Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue.
Ministério da Asúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7 ª edição, 2010.
Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. Dengue. Classificação de risco. Manejo clínico. 2011. Disponível em http://www.sms.rio.rj.gov.br/coe. Acesso em 29/04/2011.
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