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Serviço de Epidemiologia - H.F.S.E.
1Pereira, A.G.L.;1Escosteguy C.C;1Marques, M.R.V.E.;2Bergamo, L.C.
1Serviço de Epidemiologia/H.F.S.E.2Faculdade de Medicina/UNESA, Rio de Janeiro, R.J., Brasil
Introdução: A circulação dos vírus da dengue, Zika e chikungunya no Brasil tem grande impacto para a área da saúde e a sociedade em geral. Estas arboviroses podem ser transmitidas pelo mesmo vetor (mosquito Aedes aegypti) e têm sua distribuição favorecida por diversos fatores, como a urbanização desordenada, os desmatamentos e as migrações populacionais. Os últimos eventos de massa internacionais ocorridos no país também ampliaram o fluxo de pessoas de diversas partes do mundo. Não há ainda vacina disponível e nem tratamento específico. Os sinais e sintomas podem ser semelhantes (febre, mialgia/artralgia e exantema, dentre outros), sendo fundamental a identificação precoce dos sinais de gravidade e a instituiação de tratamento adequado para o paciente. A vigilância epidemiológica teve que adaptar-se a novos desafios, sobretudo o aumento dos casos de microcefalia associados ao vírus da Zika (ZIKV) e as formas neurológicas graves incluindo a síndrome de Guillain-Barré (S.G.B.). Mais recentemente, o risco da urbanização da febre amarela.
Objetivos: descrever o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes notificados no H.F.S.E. com síndromes neurológicas potencialmente associadas aos arbovírus da dengue (DENV), febre de chikungunya (C.H.I.K.V.) e Zika (Z.I.K.V.), em 2015 e 2016.
Metodologia: estudo descritivo exploratório a partir de bases de dados da vigilância epidemiológica do H.F.S.E., e coleta de dados complementar em prontuários médicos/fichas de investigação do SINAN. Foram incluídos casos notificados com síndrome neurológica (S.N.) de origem indeterminada e: a) com registro de infecção viral prévia até 60 dias antes do início do quadro neurológico, confirmados laboratorialmente ou não; b) sem registro de infecção viral prévia 60 dias antes do início do quadro neurológico, mas com confirmação laboratorial para arbovírus. Análise com Epi Info 2000 e S.P.S.S. 18. O estudo faz parte de pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do H.F.S.E. e foi apresentado no X Congresso Brasileiro de Epidemiologia e no IX Seminário de Pesquisa da Estácio / V Jornada de Iniciação Científica da UNESA.
Resultados: 72 casos notificados no período preencheram os critérios de inclusão, sendo 44 homens (61,1%), com idade de 14 a 76 anos (mediana: 37 anos). A tabela 1 sintetiza a distribuição dos principais sinais/sintomas gerais e S.N., e a classificação final dos casos. A S.G.B. foi o quadro neurológico mais frequente, seguido pelas meningoencefalites. Durante a investigação, descartou-se arbovirose em 19. Os 53 casos restantes foram considerados confirmados ou possivelmente associados a arbovírus; a S.G.B. foi responsável por 45,3% destes casos, seguida pelas meningoencefalites com 22,6%. Confirmou-se laboratorialmente Zika em 3, chikungunya em 6, dengue em 4, dengue e chikungunya em 1; 14 casos possivelmente associados a arbovírus ainda estão em investigação. Do total de casos, 38 foram internados no H.F.S.E. , com 1 óbito (S.G.B. possivelmente associada a Zika) e 19 altas com sequela. Adicionalmente houve outro óbito por meningoencefalite associada a dengue, não internado no H.F.S.E.; a evolução de 12 casos não internados no H.F.S.E. foi ignorada.
Tabela 1: Perfil dos 72 casos com síndrome neurológica potencialmente associadas a arbovírus, H.F.S.E., 2015-2016.
| Sinais e sintomas gerais | f | % |
|---|---|---|
| Febre | 43 | 59,7 |
| Exantema | 31 | 43,1 |
| Artralgia | 20 | 27,8 |
| Mialgia | 18 | 25,0 |
| Cefaleia | 15 | 20,8 |
| Náuseas/vômitos | 15 | 20,8 |
| Prurido | 8 | 11,1 |
| Hiperemia conjuntival | 4 | 5,6 |
| Linfadenopatia | 4 | 5,6 |
| Diarreia | 3 | 4,2 |
| Dor retro-orbitária | 2 | 2,8 |
| Edema membros | 1 | 1,4 |
| Artrite | 1 | 1,4 |
| Dor abdominal | 1 | 1,4 |
| Quadro neurológico | 72 | 100 |
| Síndrome de Guillain-Barré | 25 | 34,7 |
| Meningoencefalite | 22 | 30,6 |
| Mielite transversa | 10 | 13,9 |
| Polirradiculopatia | 4 | 5,6 |
| Neurite óptica | 1 | 1,4 |
| Outro/não especificado | 10 | 13,9 |
| Classificação final | ||
| Arbovirose confirmada | 14 | 19,4 |
| Zika possível | 25 | 34,7 |
| Em investigaç˜o | 14 | 19,4 |
| Descartada | 19 | 26,4 |
Conclusões:o estudo evidencia o grande desafio do diagnóstico diferencial dos casos, e destaca o predomínio da S.G.B. e das meningoencefalites entre as síndromes neurológicas. Lembramos que a portaria M.S./G.M. nº 204 de 17/02/2016 determina a notificação imediata de óbito suspeito por DENV, C.H.I.K.V. ou Z.I.K.V., doença aguda pelo Z.I.K.V. em gestante (exantema em gestante), febre amarela e Z.I.K.V. em áreas sem transmissão. Os demais casos de DENV, Z.I.K.V. e C.H.I.K.V. são de notificação semanal. A microcefalia passou a ser de notificação imediata nacional a partir da Portaria M.S./G.M. nº 1813 de 11/11/2015.