Você está em: Home >>>> Profissionais de Saude >>>> Boletim Epidemiológico >>>> Febre amarela: perfil clínico epidemiológico dos casos notificados no H.F.S.E. na epidemia de 2017
Pereira, A.G.L.1; Escosteguy, C.C.1; MArques, M.R.V.E.1; Tasca, B.G.2; Pimentel, C.3; Galliez, R.3
1Serviço de Epidemiologia/H.F.S.E.;2Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva - IESC/U.F.R.J.;3.IEISS/DIP2/H.F.S.E.
Introdução: A febre amarela é uma arbovirose imunoprevinível, potencialmente grave e de notificação compulsória em todo o território nacional. No Brasil, casos de febre amarela eram descritos, de forma endêmica, principalmente na região amazônica, com surtos esporádicos fora dessa área. Em dezembro de 2016, o vírus emergiu no extremo leste brasileiro, dando início ao maior surto de febre amarela registrado nas últimas décadas (777 casos confirmados até julho/2017; letalidade 33,6%). Os estados com maior número de casos confirmados foram Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro.
Objetivos: Descrever o perfil clínico- epidemiológico dos casos confirmados de febre amarela, internados no Hospital Federal dos Servidores do Estado (H.F.S.E.) em 2017.
Metodologia: Estudo observacional, com análise de bases de dados secundárias do H.F.S.E.; e coleta de dados nas fichas de investigação epidemiológica do SINAN do H.F.S.E..
Resultados e discussão: Foram notificados 12 casos suspeitos, dos quais 9 foram confirmados para febre amarela através de P.C.R.; 8 eram do sexo masculino; a idade variou de 16 a 75 anos, com média 47,8 e mediana 43 anos. Dos casos confirmados, 6 (66,7%) referiram raça/cor de pele branca, 2 parda e 1 negra. Quanto à escolaridade, 3 (33,3%) eram analfabetos e apenas 3 tinham ensino médio completo. Em relação ao município de residência, 5 (55,6%) moravam em Casimiro de Abreu, 1 em Porciúncula, 1 em Rio das Ostras, 1 em São Pedro da Aldeia e 1 em Silva Jardim. Dois casos relataram deslocamento para Casimiro de Abreu.
Todos os casos relataram presença de Aedes aegypti em área urbana e 1 caso (11,1%) referiu ocorrência de epizootias (macacos mortos). Em 6 (66,7%) a investigação concluiu que o caso foi autóctone do município de residência, e em 3 indeterminado. Dois casos (22,2%) foram considerados relacionados ao trabalho.
Havia relato de comorbidade em 4 casos: asma e diabetes; hipertensão arterial; hipertensão arterial e insuficiência cardíaca; etilismo e tabagismo.
A tabela 1 apresenta a distribuição dos principais sinais e sintomas relatados e a tabela 2 os valores máximos observados para alguns exames séricos.
Durante a internação, 1 caso evoluiu com pneumonia necrotizante de origem hospitalar; 3 necessitaram diálise. Dois casos foram a óbito (22,2%), ambos com comorbidade (idoso com hipertensão arterial e insuficiência cardíaca; etilista e tabagista). Dos 7 casos que receberam alta, 2 foram reinternados por recrudescimento dos sintomas de hepatite pós-febre amarela.
O retardo entre início de sintomas e admissão no H.F.S.E. variou de 4 a 11 dias, com média 6,8 e mediana 6 dias. O tempo médio de permanência no H.F.S.E. variou de 1 a 35 dias, com média 8,1 e mediana 6 dias.
Nos casos que evoluíram com óbito, os valores máximos da ALT e AST foram maiores que nos demais (AST média: 7815 x 1735, mediana: 7815 x 880, p=0,02; ALT média: 2190 x 1122, mediana: 2190 x 1153, diferença não significativa).
Tabela 1: Distribuição dos sinais e sintomas dos casos confirmados de febre amarela internados no H.F.S.E., 2017.
| Sinais e sintomas | n | % |
|---|---|---|
| Febre | 9 | 100,0 |
| Cefaleia | 8 | 88,9 |
| Mialgia | 8 | 88,9 |
| Náuseas/vômitos | 8 | 88,9 |
| Dor abdominal | 6 | 66,7 |
| Icterícia | 6 | 66,7 |
| Colúria | 6 | 66,7 |
| Constipação intestinal | 3 | 33,3 |
| Diarreia | 2 | 22,2 |
| Prostração | 2 | 22,2 |
| Alterações renais/Insuficiência renal | 2 | 22,2 |
| Hemorragia | 2 | 22,2 |
| Artralgia | 1 | 11,1 |
| Convulsões | 1 | 11,1 | Total | 9 | 100,0 |
| Fonte: SINAN local/Serviço de Epidemiologia/H.F.S.E. | ||
Tabela 2: Distribuição dos valores máximos observados para alguns exames laboratoriais nos casos confirmados de febre amarela internados no H.F.S.E., 2017.
| Maior valor | Média (D.P.) | Mediana | Variação |
|---|---|---|---|
| AST | 3086(3554) | 1333 | 69-7828 |
| ALT | 1359(1015) | 1221 | 86-3144 |
| Bilirrubina total | 2,91(1,84) | 2,36 | 1,33-3,54 |
| Bilirrubina direta | 1,80(1,43) | 1,8 | 0,11-2,86 |
| Ureia | 72(58,1) | 55 | 19-189 |
| Creatinina | 2,41(2,24) | 1,24 | 0,8-4,3 |
| Menor valor | Média (D.P.) | Mediana | Variação |
| Plaquetemia | 92.125(74.524) | 71.000 | 30.000-232.000 |
| Fonte: fichas de investigação epidemiológica do SINAN local/Serviço de Epidemiologia/H.F.S.E. | |||
Conclusões:O estudo contribuiu para o conhecimento do perfil dos casos de febre amarela notificados no H.F.S.E.. A letalidade encontrada nesta análise, 22,2%, e a ocorrência de reinternações reforçam a necessidade de diagnóstico e tratamentos precoces, assim como o adequado acompanhamento pós-alta.