Você está em: Home >>>> Profissionais de Saúde >>>> Boletim Epidemiológico >>>> Micobacterioses pós-cirúrgicas: experiência no acompanhamento de 132 casos
Amancio,R.T.1; Passoni, L.F.1; Lessa M.M.1; Faria, A1; Souza, .J.2;Menezes, J.A.1
-1Serviço de Doenças Infecto-Parasitárias - DIP / H.S.E. / M.S.;2 Laboratório de Microbiologia - H.S.E. / M.S.
INTRODUÇÃO: Em 2004 ocorreu um surto de infecção por micobactéria em pós-operatório de cirurgia video-laparoscópica no Pará, com cerca de 300 casos, que foram tratados com ressecção cirúrgica do granuloma associado à claritromicina por um período mínimo de seis meses.
Em outubro de 2006 surgiram os primeiros casos de infecção de sítio cirúrgico em pacientes submetidos a cirurgia video-laparoscópica no município do Rio de Janeiro, principalmente em hospitais da rede privada, caracterizados por uma má cicatrização das feridas, além de lesões com aspecto de granuloma. Posteriormente foi isolado como agente etiológico uma micobactéria de crescimento rápido, que inicialmente acreditava-se ser o Mycobacterium abscessus mas acabou sendo identificada como M. massiliense.
Em março de 2007, o Ministério da Saúde em associação com Secretaria Estadual de Saúde recomendaram o tratamento com o esquema tríplice (claritromicina + terizidona + etambutol), e assumiram tanto o fornecimento de medicamentos para os pacientes, quanto o acompanhamento ambulatorial dos mesmos. Fazia também parte da recomendação do Ministério da Saúde a avaliação quanto à necessidade ou não de ressecção cirúrgica como parte do tratamento.
Foram escolhidas oito unidades de saúde, dentre elas o Hospital dos Servidores do Estado (HSE), para onde os pacientes acometidos pelo surto de micobacteriose atípica pós-cirúrgica foram encaminhados e tratados ambulatorialmente.
O surto de infecção por micobactérias em pós-operatório de cirurgia video-laparoscópica no Estado do Rio de Janeiro acometeu cerca de 1.000 pacientes, de 78 hospitais distintos, em 10 municípios.
OBJETIVOS: Analisar as características dos pacientes, da cirurgia, e a resposta ao tratamento.
METODOLOGIA: Revisão dos prontuários do ambulatório de micobactérias do HSE.
RESULTADOS:No período de 2/04/07 a 18/04/2008, 145 pacientes foram atendidos no Serviço de DIP-HSE com suspeita clínico-epidemiológica de micobacteriose pós-procedimento cirúrgico. Destes, 13 tiveram o diagnóstico afastado pela ausência de alterações histopatológicas e/ou bacteriológicas compatíveis ou por abandonarem a investigação.
De 132 pacientes com micobacteriose [99 (75%) do sexo feminino; mediana de idade de 45,5 anos (variando de 13 a 89 anos)], a maioria havia sido submetida a cirurgia videolaparoscópica: colecistectomia (75 pacientes; 56,8%), cirurgia do aparelho reprodutor (27; 20,5%); cirurgia de redução do estômago (12; 9,1%) e artroscopia (4; 3,0%). O diagnóstico foi definido por critérios: a) microbiológicos, pela evidência de BAAR nas lesões ou cultivo positivo (25 pacientes; 18,9%); b) histopatológicos, pela presença de granulomas, com bacteriologia negativa ou não realizada (84 pacientes; 63,6%); c) apenas clínico-epidemiológicos (23 pacientes; 17,4%). Seis pacientes, com diagnóstico confirmado por histopatologia e/ou bacteriologia, abandonaram o acompanhamento logo após a prescrição dos medicamentos; 126 iniciaram esquema com claritromicina, etambutol e terizidona, associado ao debridamento cirúrgico.
Dos 126 tratados, 4 (3,2%) foram perdidos de observação; 28 (22,2%) ainda estão em tratamento e 94 (74,6%) receberam alta após um período de 6 a 13 meses de tratamento. Destes, 53 foram tratados por 6 meses; 12, por 7 meses; 10, por 8 meses; 7, por 9 meses; 7, por 10 meses; 3, por 11 meses e 2 por 13 meses. Por intolerância à terizidona ou por não resposta clínica, 17 pacientes tiveram que trocar o esquema inicial para outro contendo amicacina e claritromicina, com ou sem etambutol.
CONCLUSÕES: Embora estudos in vitro tenham mostrado sensibilidade do M. massiliense apenas à claritromicina e à amicacina, apenas um dos pacientes que recebeu alta apresentou recidiva, e se encontra novamente em tratamento. Pelo baixo índice de reicidiva, talvez, assim como no surto do Pará, a monoterapia com claritromicina tenha sido eficaz. Cabe ressaltar que a ressecção cirúrgica do granuloma associada à antibioticoterapia se mostrou como uma estratégia terapêutica importante, tanto no surto do Pará, quanto no Rio de Janeiro.
Design e Desenvolvimento: Equipe de Desenvolvimento Web do C.P.D.