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Neste editorial discutiremos uma interessante, atual e pertinente questão proposta por um de nossos visitantes: Qual o papel e a eficácia dos chamados "tratamentos alternativos" no curso da AIDS ?
Existem muitas opções à medicina tradicional contemporânea e portadores de condições crônicas, como a infecção pelo HIV, procuram frequentemente ouvir profissionais e/ou curiosos. A busca dos chamados tratamentos alternativos é comum no Brasil e também em outros países da América, Europa, África e Ásia. As diferenças sócio-culturais respondem pelas variedades de alternativas encontradas nas diversas regiões.
Podemos iniciar nossa discussão esclarecendo que não dispomos de dados que nos possibilitem fazer uma avaliação dos resultados obtidos com as terapias alternativas. Homeopatia, acupuntura, ortomolecular, macrobiótica, ioga e outras práticas de diversas origens são utilizadas em pacientes em diferentes estágios da infecção, mas seus efeitos são raramentes estudados de forma sistemática.
É verdade que muitas vezes os profissionais que trabalham nessas áreas mantém com seus clientes relações tão fortes e verdadeiras que exercem efeito terapêutico intrínseco. Relação médico-terapêuta/paciente a parte, sabe-se pouco sobre como atua cada uma destas práticas no curso da infecção pelo HIV.
Sabe-se sim que uma vez integrado o material genético do HIV ao material genético do hospedeiro, a população do vírus tende a aumentar. Sabe-se também que para manter-se vivo o vírus utiliza algumas enzimas que são, hoje, alvo dos anti-retrovirais.
O conhecimento atual sobre a dinâmica da replicação viral e seus efeitos no sistema imunológico ainda não nos permite grande otimismo, mas o rápido desenvolvimento de medicamentos extremamente potentes nos anima a investir no tratamento alopático. O arsenal já tem perto de 15 medicamentos com ação contra as enzimas responsáveis pelo ciclo de vida do HIV dentro das células hospedeiras. Alguns desses medicamentos tem ação e utilidade limitadas, mas já são possíveis combinações re remédios que reduzem muito a atividade do vírus e, consequentemente, permitem grau variado de reconstrução do sistema imune acometido.
Não nos resta dúvida que vale a pena tratar. Para os pacientes, temos que falar dos bons resultados que os novos esquemas terapêuticos apresentam em diminuir as infecções oportunistas e aumentar a sobrevida.
As terapias alternativas podem ser usadas nesse contexto, como complementares, e serão bem vindas se não oferecerem riscos adicionais a pacientes que já fazem uso de muitas substâncias tóxicas, algumas de difícil metabolização.
As pessoas em uso dos atuais esquemas terapêuticos contra o HIV devem sempre ser alertadas para as possibilidades de reações colaterais quando tomarem outras medicações. Pode ser perigosa a administração de substâncias alcoólicas e possivelmente até plantas medicinais podem ter seu efeito exacerbado, diminuído, aumentar ou diminuir o efeito dos anti-retrovirais. Ou seja, além de tomar as medicações nas doses e horários certos, os pacientes devem também consultar seu médico antes de fazer uso de qualquer outra medicação.
Vemos então como se transforma a vida de quem está disposto a aderir, de fato, a um esquema terapêutico sob orientação especializada. O que acontece é que é difícil ingerir todos os comprimidos nos horários certos sem previsão de poder parar. Facilmente surge a vontade, ou a esperança, de ter uma prescrição menor e mesmo os mais obstinados sonham com umas férias de seus comprimidos, ou algum complemento que possa vir a acelerar sua reconstrução imunológica deixando para trás a infecção pelo HIV. Não podemos contra-indicar, ou desvalorizar, práticas terapêuticas voltadas para outros aspectos da saúde, mas podemos ter certeza que atualmente o melhor que pode ser feito com relação a casos de infecção pelo HIV deve se basear no uso enérgico de medicamentos com reconhecida capacidade contra o vírus.
Essas reflexões não tem a pretensão de esgotar o assunto sugerido por nosso visitante. Esperamos poder continuar a discutir esses e outros aspectos relacionados às patologias infecciosas.
Profa. Dra. Maria Letícia Santos Cruz.
Agosto de 1997.
Pelo Dr Pedro G. Garbes-Netto
Pela Dra. Jacqueline A. Menezes
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